as visitas de estudo deixam-me sempre tão ansiosa. como é que se chamava aquele imperador? parece sempre que vai ser tão aborrecido. naqueles tempos devia ser estranho. como é que eles se entendiam com aqueles desenhos e letras estranhas? este museu tinha um cheiro parecido com o do cabelo da avó. devia ter tirado apontamentos.
31.3.10
29.3.10
provocação do principio da realidade. aquelas flores pequeninas que se mostram naquele espaço estreito entre as pedras da calçada. aquele lugar que devora saltos altos, pastilhas de mentol, beatas maquilhadas de rouge e moedas de dois cêntimos. como se já não sobrasse terra no mundo. intenção. pura pulsão egoísta.
28.3.10
27.3.10
quando estudava para os exames ficava sempre no mesmo sítio. entre o 24º e o 27º quadrado. isto a contar da entrada poente. gostava de ir ver os patos do 103º. sentava-me e ficava a olhar. isto era no intervalo das aulas. ontem comi uma tangerina no 77º que é uma espécie de ponte onde mora a tartaruga.
26.3.10
25.3.10
24.3.10
23.3.10
21.3.10
a sombra marca meio dia e vinte e dois. temos trinta e oito minutos para banhos e almoço. tu sumo de laranja. eu crepes ou torradas? bebemos café no jardim? compramos o jornal mais logo. vou enviar mensagem a dizer que chego atrasada à reunião. apetecia-me tanto mais uma preguiça. vamos. jantamos? sim. sim. depois vemos um filme. gosto disto. eu também. muito.
20.3.10
não conseguia largar o jornal. não compreendia o que se passava. os títulos estavam diferentes do habitual. eu sou a abelha mestra. chove no meu coração. estranho amor. sacode as ancas. ama-me ou deixa-me. passei para o caderno de economia que falava de um crash em wall street. enfim decidi-me pela informação desportiva. aqui sim. tudo normal. parece-me que esse joe dimaggio vai ter um futuro brilhante.
18.3.10
gostava dos comboios que tinham todos os assentos orientados para o mesmo sentido. alinhados. como os da montanha russa. costumava ir a viagem inteira a imaginar as caras das pessoas que se sentavam à frente pelo aspecto do cabelo e o formato da nuca. o gainsbourg saía sempre nos anjos. já a elis seguia muitas vezes até ao rossio.
17.3.10
quando me mudei para cá - há uns quarenta anos - este era um bairro de gente muito vaidosa. vinha sempre para este lugar às seis da tarde. é a hora mais triste do dia. os cavalheiros vestiam-se muito bem. os gaiatos passavam aqui a tarde nas correrias. agora está tudo tão diferente. e dá-me pena que agora o pão de deus venha com tão pouco côco.
16.3.10
é possível que já lá tenha estado. não sei. não me recordo. todos os dias ela diz-me que temos que ir lá os dois. ver aquilo que não se parece com nada. ela diz que tem sol e espaço vazio. são só uns minutos. vais ver. acho que já conheço quase todos os lugares daquele lugar. ela descreve-os sempre tão bem.
15.3.10
mais do que no café, na escola ou na igreja. o semáforo é o lugar onde encontramos os que nos querem francamente bem. não faltam amigos que aparecem do nada para nos prover de pensos rápidos, almanaques astrológicos, ambientadores de eucalipto, calendários e prospectos para as próximas férias. com direito a um colchão ortopédico novinho em folha.
14.3.10
um natural de lisboa é um lisboeta. um natural de cacilhas é um cacilheiro. O barco que liga lisboa a cacilhas não é um lisboeta nem tão pouco um alfacinha. e se não for na direcção de cacilhas não deixa por isso de se chamar cacilheiro. um bom lisboeta acredita que os barcos que ligam as duas margens do tamisa ou a rive gauche à rive droite se chamam sempre cacilheiros.
13.3.10
parece que o que realmente lhe interessa é abrir o grande portão verde às nove da manhã. religiosamente. sair pelas treze para uma sopa ao balcão. reabrir às quinze para voltar a cerrá-lo às dezanove. todos os dias. o que se passa por lá? as estórias das coisas que tem por lá ouvem-se pelo bairro todo. ele passa os dias a ouvi-las mas parece não lhes dar muita importância.
12.3.10
11.3.10
auto-desenho#1. meias de lã virgem e saia com motivos estivais sobre sofá de linho cru e chão de tábua corrida. auto-desenho#2. meias de lã virgem e camisola de algodão sobre cama cénicamente desfeita. os auto-desenhos da cintura para baixo são os únicos que transmitem a dimensão circunstancial do autor.
10.3.10
9.3.10
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